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terça-feira, 13 de novembro de 2012
Trecho: No Caminho de Swann
"Até em Paris, num dos bairros mais feios da cidade, conheço uma
janela de onde se vê, depois de um primeiro, um segundo e até um
terceiro plano composto de telhados amontoados de ruas diversas, um
campanário cor-de-violeta, às vezes avermelhado, às vezes ainda, nas
melhores "provas" que lhe tira a atmosfera, de um negro decantado de
cinzas, e que não é outro senão o zimbório de Saint Augustin e que dá a
essa rua de Paris a característica de certas vistas de Roma, feitas por
Piranesi. Mas como a memória, por mais gosto que tivesse em
reproduzi-las, não conseguisse pôr em nenhuma dessas pequenas gravuras
aquilo que eu há muito havia perdido, o sentimento que
nos faz não considerar uma coisa como um espetáculo, mas a julgá-la um
ser sem equivalente, nenhuma delas impõe-se a mim, sobre uma parte
profunda da minha vida, como ocorre com a lembrança desses aspectos do
campanário de Combray nas ruas que ficam por trás da igreja. (...) E
ainda hoje se, numa grande cidade provinciana ou em um bairro parisiense
que eu mal conheça, um transeunte que "me mostra o caminho" me aponta
ao longe, como ponto de referência, uma torre de hospital, um campanário
de convento que ergue a ponta de sua torre eclesiástica na esquina de
uma rua pela qual devo seguir, por pouco que minha memória possa, de
modo obscuro, achar nele algum traço semelhante à figura amada e
desaparecida, o transeunte, se se vira para se assegurar que não vou me
perder, pode, para seu espanto, dar comigo, esquecido do passeio
projetado ou do caminho a trilhar, ali parado, diante do campanário,
durante horas, imóvel, tentando lembrar-me, sentindo, no fundo de mim,
terras reconquistadas ao esquecimento, que vão secando e se delineando; e
nesse momento, sem dúvida, e com mais ansiedade que há pouco, quando
lhe pedia que me orientasse, procuro ainda o meu caminho, dobro uma
rua... mas... dentro do meu
coração."
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